segunda-feira, 9 de agosto de 2010

COM A PALAVRA, NÓS - OS BRASILEIROS!


Ainda não sei se é pela vinda de Setembro trazendo a Primavera embrulhada nas cores da Pátria ou se é pela proximidade de Outubro apregoando a chegada das eleições presidenciais. Sei apenas que sinto o tempo girando a chave do mecanismo de corda que acocha o nosso peito e liga o sinal de alerta em nossos sentidos neste importante momento político, quando a força do voto perante a urna imprime legitimidade à sentença: “Com a palavra, nós - os brasileiros!”

A pauta da imprensa está voltada, com todo o poder de fogo, para a classe política. A mídia vira os holofotes para a corrida presidencial, submetendo todos os participantes a uma hiperexposição ao público pelas molduras das vias de comunicação, nas campanhas compulsórias, nos debates eleitorais e na propagação de suas imagens nos telejornais diários. Porém, funesto é o efeito de tanta mostra: à guisa dos danos produzidos na fotografia antiga, é na superexposição à luz, que se queima o filme.

As lentes atentas das câmeras revelam a face oculta de cada um por detrás da maquiagem. Sob o manto da dissimulação, candidatos constroem em suas falas, muros de falsas verdades encobrindo fatos irreveláveis. E com as ‘mãos no coração’, em atitude comovente. A prioridade de todos - as chamadas metas – são as mesmas promessas vãs, eleitoreiras e marquetizadas: saúde, educação, segurança e progresso. Na verdade, todos os presidenciáveis parecem portar o vírus que ativa uma estranha metamorfose após a vitória nas eleições: "perdem a lembrança" de todas as juras feitas no palanque, desqualificam os votos arrancados da esperança de uma população crédula e compactuam com a mesmice, participando do jogo viciado de sempre; buscam a suntuosidade dos palácios, o aparato das cortes, a adulação da diplomacia, a troca de presentes com os demais mandatários, a oportunidade de estar distante de Brasília, em solo alheio, fora do alcance do monitoramento de seu povo, atolados nas mordomias, cercados de lacaios. Na verdade, ninguém deseja administrar a máquina para consertá-la e sim para aproveitar-se dela o quanto possível, assegurando, para o si e para o seu clã, tempo maior na abastança com a manutenção dos privilégios oligárquicos.

Talvez pela constância desse “déjà vu” no cenário público, o descrédito e a desconfiança tenham assolado a cabeça de um desconhecido e brilhante jovem formando em Administração. Ao conversar comigo, dias atrás, sobre a iminência do horário político mostrou-se enfático: “Não sou ligado em política. Nem conheço os candidatos, voto por obrigação, mas nem escolho nome algum. Se pudesse me abster de votar, ficaria longe desse sistema que elege uma corja de incompetentes e enganadores. Não acredito em nenhum deles.” Diante de tal depoimento, muito me aflige perceber que essa postura reflete a convicção de expressiva faixa da juventude. Ao pensar que somos a imagem de quem elegemos, temo pelo distanciamento dos eleitores alienados que se alijam do processo e deixam a Nação à deriva, afogando-se no caos. Temo, por outro lado, diante das más escolhas, que o meu País fique girando em círculos, num retrocesso de si, sem solucionar seus problemas e sem demarcar um rumo para o futuro. Razões como essas, ilustram que a importância de valorizarmos o voto consciente, está muito além dos aspectos legais, éticos e políticos, está num “quê” de compromisso pessoal com a Pátria.

Todo cidadão tem o dever cívico e sagrado de depositar o seu voto na urna para dar alicerce eleitoral à Democracia brasileira, porque a Democracia é o mais eficaz sistema de organização social a permitir a prática da liberdade de ação e de expressão. Porém, o simples fato de se ter vivência num regime democrático, não garante o resguardo da condição de liberdade. Assim explico o meu raciocínio: O processo eleitoral seleciona os representantes do povo para os cargos mais importantes da Nação. Nesse momento, um povo sábio e bem informado se utiliza da Democracia para afastar os embusteiros e criar prosperidade ao país. Mas um povo ingênuo e inculto, consente que os demagogos e os impostores, atuando como verdadeiros gângsteres, controlem a Democracia e manipulem as rédeas do país.

Infelizmente, o voto em branco, assim como o voto nulo, ainda que representem um protesto, um manifesto contra as opções existentes, na prática não produzem efeito algum no resultado das eleições, pois não são considerados no cômputo como parte válida do resultado. Justo e razoável seria se o voto em branco validasse a rejeição popular aos candidatos àquele cargo, ensejando o esvaziamento da cadeira correspondente e forçando à nova composição partidária mais seleta. Certamente os partidos, temendo por tal resposta nas urnas, selecionariam, com apurado zelo, representantes mais qualificados técnica e moralmente. Assim, o resultado das eleições se configuraria numa real e autêntica vontade popular, sem a imposição atual de obrigatoriamente escolher entre maus candidatos. Com isso, a melhora do nível e da qualidade no staff do corpo político brasileiro tomaria forma na alavanca para um Brasil progressista, para o Gigante adormecido acordar e se transformar.

Eleger o Presidente da República é questão da mais alta importância, porque aí reside decisão sobre os destinos da Nação. Há que se deter com responsabilidade sobre a escolha. Há que se conhecer a biografia, analisar o perfil e observar o proceder dos aspirantes. A reputação de um governante, a meu ver, não começa a partir do seu mandato. A tarimba do Chefe de Estado começa bem antes: na sua trajetória política, no apoio que é capaz de articular e sustentar, em suas aptidões para lidar com a coisa pública. Mesmo na condução de sua campanha põe à vista o seu preparo técnico e suas habilidades políticas. Sua imagem, acima de tudo, impende estar associada à ideia de força, de congruência, de solidez, de independência.

A Democracia exige que o candidato ao mais alto posto executivo convença a todos os governados, ter autonomia nas ideias, capacidade de liderança não só sobre o sistema político, mas na interação com a sociedade, carisma para congregar parcerias e com isso abrir novos horizontes aos avanços do país, firmeza para combater conveniências dos poderosos que ameacem a estabilidade da soberania do Estado. E por tudo isso, governar na trilha da razão mas de coração voltado para a totalidade da população, especialmente para a faixa dos explorados e indigentes, que sobrevivem em condições sub-humanas, sem dignidade, sem pátria, sem paz.

Talvez seja essa uma visão demasiado romântica para o Brasil surreal de hoje, mas esperanças, as tenho de sobra.


....................................................................
CRÔNICA 37
Mande um recado pra mim, comente este conto.
Poste um comentário!http://www.contosdeacasos.blogspot.com/

5 comentários:

  1. Mãe,

    Concordo plenamente com o seu olhar sobre a postura política dos eleitos e dos eleitores de nosso país. Criticar a desordem política e a alienação social e construir um ideal por meio de arte somente poderia fluir de você.
    Acredito que passou o tempo em que os políticos tentavam parecer intelectuais quando ignorantes, solidários quando egoístas, portadores de esperança quando mentirosos. Hoje, é necessário uma lei para filtrar os que não possuem um passado penal imaculado com o intuito de impedir a formalização plena da candidatura de tais pessoas.
    Hoje, todos sobem nos palanques: analfabetos, corruptos e apadrinhados de todas as "elites" políticas.
    O resultado consiste numa eleição que se aproxima infelizmente bipolarizada e marcada pela disputa entre uma pessoa com passado moralmente questionável, sem aptidão política nenhuma e completamente desprovida de carisma e outra advinda de uma escola política endurecida onde somente os interesses poderosamente econômicos determinam os rumos desse país. Enfim, em 2010 ou votamos mal ou votamos mal ou votamos em branco ou anulamos o nosso voto! O que fazer quando não há um candidato que mereça o posto máximo de comando do país ou em quem podemos depositar as nossas já pequeninas esperanças?
    Parabéns e até o seu próximo conto.
    :o)

    ResponderExcluir
  2. Regina,

    A ideia de falsa liberdade é algo que algum tempo me incomoda também. Acredito que a alienação política de nosso país é pior que o autoritarismo da ditadura militar, falando em regime de governo. Penso assim porque é quase impossível convecer a todos da prisão política deste país. O pior são as desilusões de jovens dispostos a mudar esta realidade...O sistema de cárcere mental é tão forte, que vence os "revolucionários", os guerreiros seduzidos pelo sistema de corrupção e dinheiro fácil!É só olharmos para o princípio das carreiras dos grandes nomes do cenário político: eram jovens que acreditavam em uma sociedade melhor, mas renderam-se aos poderosos reis do mundo: o dinheiro e o poder!
    Diante disto, só nos resta crêr na educação, na conscientização política, na formação de verdadeiros cidadãos...
    Inspirada no conto, afirmo: é preciso ter esperança e jamais deixá-la morrer.

    ResponderExcluir
  3. G,no país onde impera a corrupção, não há, ao longo dos séculos vindouros, esperança do surgimento de políticos e política sérios. Deixou de existir neste país, lideranças políticas confiáveis.A transformação de nosso país em "boutique" daí as várias "bolsas" instituídas por um crustáceo, não se poderia esperar um desenvolvimento como merece o povo brasileiro.
    De Getúlio a JK,
    Espaço em branco se seguiu,
    Depois veio Sarney, Collor e Itamar,
    E FH se omitiu.
    De um Lula popular,
    Que nada sabe, e nada viu,
    Aflorou mais corrupção, que afundou nosso Brasil.
    O certo é, que a população brasileira,não poderá, ao longo de milênios, mudar o tipo de político hoje existente.
    O lema político é,
    Viva a corrupção, abaixo a população.
    Sem esperança. Bravo. P.

    ResponderExcluir
  4. Regina

    Minha filha, meu nome é Tarcísio, tem tempo que pelejo pra te escrever mas o tal do google não passa o meu recado, vou ver se como anonimo ele me aceita.
    Também penso que os políticos do Brasil precisam criar vergonha na cara e cuidar do país em vez de depredar na vez que chegam no poder. Queria ter suas esperanças, moça mas num acredito mesmo em conserto desse quadro triste.
    Ainda bem que eu tenho teu blog pra ler, só que me viciei nos teus escritos, viu? fico de plantão esperando outra história tua, fique sabendo. Até mais ver.

    ResponderExcluir
  5. Olá, amiga Regina!

    Estava ávida por mais uma crônica sua!
    Como tudo o que escreve, esta foi mais um tema para profunda reflexão.
    Confesso que muitos e muitos anos se passaram e sempre ouvi críticas a eleições, políticos, políticas etc. Até hoje não me lembro de ter visto uma proposta de governo (em qualquer nível, federal, estadual ou municipal) que traga mecanismos efetivos de se evitar corrupções ou atitudes amorais, imorais ou sem ética. Nunca vi! Somente comentários nublados de que “devemos combater isto ou aquilo” mas só devaneios para que possamos bater palmas e depositar nossos “votos de confiança”.
    Nosso povo, como a maioria dos outros, não tem condições humanas de conhecer o verdadeiro caráter dos candidatos. Aliás, nem dos vereadores que estão mais próximos! Existe imoralidade e corrupção nos municípios? Claro que sim.
    Nas “quedas de braços” das eleições, vemos centenas de elogios e acusações, mas podemos afirmar que tem fundamento? Não estamos vivendo um período de estratégias e táticas para vencerem eleições? O pior, vale tudo desde que de “IBOPE”.
    Lembrar, ainda, que um governante não o faz sozinho, é cercado de “especialistas” em cada área de atuação (sob o bel prazer do primeiro gestor e complacência do legislativo) e quero crer que daí pra baixo é que se esvaem os 27% do orçamento nacional que nunca chegam à concretização dos projetos: isso é dinheiro, matemática pura de continhas de mais ou menos. Onde estão os mecanismos de controles para dar satisfação aos interessados do povo? Onde e como se situam os poderes legislativo e judiciário nessa “sopa de políticas”? Um se preocupa em oposição ou situação numa pueril aversão ao que advém do adversário. Gestão bicameral? Pra que se deputados e senadores legislam sob os mesmos princípios, propondo e aprovando leis que tragam em seu bojo palavras e frases nubladas onde o Judiciário e atuantes do direito possam devanear em proposições e sentenças que raramente atingem os membros do executivo ou legislativo. Como peneirar toda essa orde? São milhares de coniventes na má administração da coisa pública! Neste período, “temos que nos focar” no Presidente e nos governadores mas serão os ideais para nosso governo? Temos outras opções no “mercado de administradores” e que sejam confiáveis? Pelo visto, continuaremos sob a política do pão e circo (bolsas “tudo” e teatralidade das algemas da PF que redunda em nada) essa política se compara a uma fisga: é mais dolorido tirar do que deixar como está!
    Você foi irretocável em cada expressão que usou e me deixou satisfeita por saber que não sou a única a pensar da mesma maneira.
    Adorei, e mais uma vez você engrandeceu meu espírito!
    Com voc^, aprendo a viver melhor.
    Beijos

    ResponderExcluir

Obrigada por participar do Blog, comentando este artigo.
Aguardo o seu retorno no próximo conto.
E não se esqueça de recomendar aos amigos.

REGINAFalcão