quarta-feira, 17 de novembro de 2010

VIAJANTES DAS ESTRELAS

Muitos aqui a veneram como Mãe, por nos prover, como nutriz, com as substâncias vitais. Outros lhe atribuem os poderes de Gaia, por ser um superorganismo vivo. Há os que se arriscam a chamá-la de Base Estelar, por acreditarem que somos viajantes do espaço e compartilhamos a imensidão do Universo com outras civilizações extraterrestres. Particularmente, gosto de tratá-la por Terra – nossa casa no Plano Físico.

A Bíblia revela em Gênesis: "... Deus criou o céu e a Terra, .... e viu que tudo era Bom." Num Universo de dimensões infinitas, muito além da imaginação e indagações humanas, a Terra é uma joia minúscula adornando o firmamento a inspirar poetas e prosadores. Mas o Criador foi meticuloso na engenharia dessa obra incomparável: vestiu-lhe a crosta terrestre  com uma Natureza esplêndida e exuberante, distribuiu recursos naturais preciosos e abundantes em todo o seu solo. Colocou um sol a uma distância suficiente para lhe abastecer com a justa medida de luz e calor a lhe garantir a sobrevivência. Posicionou um satélite natural no exato lugar para lhe regular os fenômenos. Produziu uma colossal quantidade de gases, com predominância do oxigênio e nitrogênio, para lhe recobrir toda a superfície e possibilitar a existência de vida. Reservou a água como substância essencial em inimaginável volume. Ajustou a inclinação do eixo imaginário, acertou os ponteiros dos movimentos de rotação e translação, desenhou com irretocável precisão os traços invisíveis dos hemisférios e meridianos, e cuidou dos detalhes mínimos em nosso domo cósmico para o equilíbrio dos ecossistemas na biosfera, com absoluta perfeição.

Do pó criou um repositório de maravilhas, um cenário de vida com um manancial de riquezas magníficas e inexauríveis e no mesmo pó, deu o sopro divino a um gestor – o ser humano – a inteligência racional, o responsável consciente pelo crescer e multiplicar da humanidade com ordem e progresso.

O Supremo Arquiteto da Criação - que tudo pode, em sua excelsa onisciência, criou a Terra e o ser humano do mesmo elemento para coexistirem em harmonia, sempre. Tudo em nós vem da terra. Nutrimo-nos da terra e a portamos em nosso organismo e, por assim dizer, a terra habita em nós.

Abracei esse segredo, faz tempo. Numa tarde chuvosa entrevistava um cientista antigo e experiente sobre o objeto de seu projeto científico financiado pela minha Instituição. Tive, na ocasião, o privilégio de ouvir da própria fonte, um trecho breve da sua primeira descoberta no início da carreira, muitos anos antes. O respeitável Ph.D. desenterrou um bloco fragmentado da última gaveta com anotações descoradas, e em tom de confidência me fez o seguinte relato: “Quando jovem, era muito afoito, carregava o mundo embaixo do braço. Encontrava-me, nessa época, como pesquisador, coletando amostras de solo em terreno íngreme. No afã de extrair o máximo proveito da excursão, embrenhei-me floresta adentro ignorando os limites de segurança. Entre folhagens e troncos, deparei-me com restos mortais de um ser humano em decomposição, provavelmente capturado por um animal selvagem. Instintivamente, coletei material para estudo, atendendo o chamado da veia científica. No laboratório, a surpresa da constatação: os elementos químicos encontrados no corpo humano são os mesmos que compõem o solo. A emoção de tamanho descobrimento vindo da minha própria investigação e não de outras literaturas, provocou uma revolução em meus conceitos e abalou minha postura diante da vida. Desde aí, o coração nunca soube que os pés queriam um caminho por onde o corpo não foi.” O eminente especialista, naquele momento, curvado ao peso dos anos e das verdades conhecidas, com semblante austero, como quem arranca uma sentença das entranhas, me destilou esta expressão, sílaba a sílaba: “Nossa embalagem veio do pó e ao pó, literalmente, retornará.” Não mais esqueci que a nossa duração é quase nada, mas um quase nada que é tanto e nós fazemos tão pouco do muito que há para avançar.

Um dos salmos de Davi assim diz em mansas palavras: "A terra nos dá o seu fruto, e Deus, o nosso Deus nos abençoa". Porém, como reagimos diante de tão generosa provisão? Eu diria: A humanidade vive imersa em atordoante atmosfera. Envolta em ganância desmedida, despreza nosso meio-ambiente e depreda os recursos disponíveis, violando as sagradas leis naturais. Em conivência com a devastação, assiste, passiva e omissa, à morte gradual e lenta do nosso Planeta Azul, colocando em risco nossa própria sobrevivência aqui. Inexiste um meio alternativo de garantirmos uma Terra sadia com o ser humano enfermo. Tudo neste mundo de cá, gira em torno de uma simples equação de ação e reação: ofereça o bem e o bem receberá; extinga e será extinto!

Nossa vinda a este mundo terreno tem uma razão de ser. Nada é por acaso. Estamos aqui, sob as vestes da carne, para aprender, para crescer, para evoluir em todos os sentidos. Nosso valor não é medido pelo "ter", mas pelo "SER". Precisamos, neste momento, ser mais intuitivos, mais sintonizados com o biorritmo da Terra, respirar em sincronia com ela, escutar-lhe os apelos, devolver-lhe o equilíbrio com música nos passos e assim, conspirar com ela por uma vida plena. Não se trata de conjeturas filosóficas, mas de medidas práticas. É bem fácil, tudo deve começar por nós e em nós mesmos:

Com os olhos da boa-vontade, podemos ver melhor tudo o que está à nossa volta para reconhecer as oportunidades diárias ao nosso lado. Podemos simplificar nossa vida, erradicar o hábito de amontoar inutilmente bens que não comportam transporte na viagem derradeira. Podemos aprender a reaproveitar, a reciclar o que for possível, a optar por materiais biodegradáveis, a produzir menos lixo, a denunciar desperdício de água e risco de incêndio, a plantar mais verde...

E com um pouco de consciência, nos tornaremos seres pacificados conosco, com os outros, com a Terra, com o Universo. Aqui, não há uma fórmula miraculosa ou secreta. São feitos muito simples, ao nosso alcance. Tudo o que existe é pura energia e, por tal, nossa presença é sentida em qualquer local do mundo. Assim, o amor incondicional, aquele que não faz distinções ou preferências, ao abrir um gesto amigo ou solidário, ao lançar uma palavra positiva ou um incentivo a quem deles precisar, ao estender a mão com complacência, ao perdoar ofensas com sinceridade, poderá gerar uma energia harmonizadora com ressonância em todo o globo terrestre.

Viajantes das Estrelas que somos, por transitarmos por estações espirituais em outras dimensões, saberemos, após a morte, que tempo e espaço foram presentes valiosos durante a nossa forma humana para esmerilar a parte imortal, aquela que fica e aspira pelo acesso à extrema felicidade nas Esferas Superiores. Mas, para alcançar os Planos mais Altos é preciso, aqui na Terra, antes do desenlace entre corpo e alma, ter feito a lição de casa, aquela que exercita o amor, o perdão, a caridade, e que traduz no zelo consigo, com o outro e com o Planeta.


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CRÔNICA 40
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3 comentários:

  1. Lindo pensamento. Parabéns pela arte em forma de digressão...ou pela digressão em forma de arte! Eis o que acontece: somos desde crianças ensinados que a cada ano que passa, passar de ano e galgar maior educação. Assim os anos vão se passando e os esforçados seguem para o ensino fundamental, médio e superior. Depois disso somos condicionados a procurar sempre o melhor emprego, o mais alto posto na empresa, etc. Alie-se a isso a vocação ao incessante crescimento e melhoramento pessoal, tem-se um quadro quase intuitivo e fechado ao automatismo da "progresso pessoal" ou seja, somos compelidos a pensar introspectivamente e direcionarmos nossas ações ao ponto profissional objetivado.
    Contudo, felizes são aqueles que, na caminhada, conseguem parar na estrada, tomar uma água de coco e dar uma olhadinha para o lado. Nessas ocasiões sempre há uma oportunidade de interagir com os nossos irmão em Cristo e aprender muito, a exemplo, de tomar uma tarde e passar algum tempo com crianças carentes, doando tempo e atenção àquelas que possuem pais ausentes ou até mesmo órfãs - aprende-se aí a prática da caridade; de outra banda, diante de uma agressão gratuita no trânsito, pode-se relevar - aprendendo com isso o exercício da tolerência; pode-se dar o dízimo na igreja; pode-se socorrer alguém; pode-se dar um pouco do que tem; enfim, se se abandonar, por alguns segundos da vida, a corrida desenfreada pelo "ouro" e se olhar para o irmão ao lado, descobrir-se-á, na verdade, a alegria insaciável de ajudar alguém, de ser feliz. Acredito que faremos assim um planeta espiritualmente melhor...na esteira das suas considerações. Beijo e até o próiximo conto!

    Ulysses

    P.S. Não demore tanto para publicar o próximo ok?

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  2. Amiga Regina
    Me reverencio à sua perspicácia em abordar mais um tema que nos instiga o raciocínio de uma forma tão complexa e controversa!
    Você abordou a inter-relação do ser humano com o planeta Terra, em toda sua amplitude e sob todas as críticas maiores possíveis. Existe um diálogo muito interessante no livro O Dia do Curinga (pág 303) (Jostein Gaarder) em que o pai pergunta ao filho: “Você sabe porque a maioria das pessoas vivem neste mundo sem se admirar das coisas que vêem? – O filho fez que não com a cabeça ao que o seu pai mesmo respondeu: Porque elas se habituam com o mundo! Todos nós precisamos de muitos anos para nos acostumar com o mundo...”. No desenrolar da história, comenta que “as crianças, como não conhecem ainda o mundo, olham admirados para cada coisa e sobre elas perguntam, mas os adultos, não se interessam mais por que não vêem novidades. Daí, é um passo para o homem desrespeitar as leis naturais que regem a natureza” Por essas e outras razões é que não concebo um poeta ou um admirador da natureza estar depredando o meio ambiente. Se bem observarmos, podemos afirmar que a degeneração e degradação dos bens naturais, são fruto do anseio por riquezas “a qualquer custo”. Este sim é o grande mal da civilização dita moderna pois se preocupa com o bem estar a curto prazo.
    Não preciso dizer que, mais uma vez, adorei o tema que abordou, deixando incrustadas no nosso raciocínio novas formas de e ângulos de observação.
    Mil Beijos amiga!

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  3. Mergulhada em um dia repleto de intensas atividades, este conto veio como um Oasis, fazendo-me parar para refletir no sentido de tudo que nos rodeia.
    Quando assisti ao filme "O Segredo", pude ver o quanto reducionista eu era, na medida em que não entendia a interdepedência de todas as coisas na imensidão do universo. Parece confuso no início, mas podemos aprender a aplicar esse entendimento na nossa vida, numa luta constante contra a tendência à atração de coisas negativas.
    Formamos uma rede de relações, cuja abrangência não se limita às pessoas, porque alcança tudo aquilo que foi criado por Deus.
    É interessante notar a diferença maior entre todas as obras do criador: ao homem, especialmente, foi dado o livre arbítrio, sendo responsabilizado, como diz em Gênesis, em cuidar e guardar da Terra.
    Em nós está o poder de preservar ou destruir!

    Lindo conto!!!!!!!!!!!!
    um grande beijo.

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