sábado, 7 de novembro de 2009

ANJOS DISFARÇADOS ::: & ::: ANJOS DESCONHECIDOS


Carlos Drummond de Andrade nos legou, sabiamente, em versos livres, uma pista para aprendermos a enxergar e tatear o desconhecido muito além da lógica, da razão, do óbvio aparente:

...... “Se procurar bem,
...... Você acaba encontrando,
.......Não a explicação (duvidosa) da vida,
.......Mas a poesia (inexplicável) da vida”.

É por esse caminho, ensaiando quebrar a barreira do incompreensível, que eu venho falar de espíritos de luz – anjos disfarçados – que entram na nossa vida por uma razão específica, quase sempre despercebida pelos nossos sentidos humanos. É preciso abrir o coração para ver e sentir a presença desses guardiões espirituais, entes iluminados de estirpe elevada, mensageiros do Supremo Criador, incumbidos de cuidar da evolução da humanidade. Aparecem entre nós, assim eu creio piamente, transmudando sua natureza etérea em uma temporária forma humana, por um breve momento para um socorro numa necessidade extrema, ou por uma estação para trazer uma experiência de paz e aprendizado e até por uma temporada mais longa quando é chegada a hora de compartilhar, aprender e crescer.

Tê-los por perto independe de crença ou devoção. Basta cultivar a sintonia com a Divindade Superior, conservar-se em alta vibração, munir-se de pensamentos positivos, exercitar o amor e o auxílio ao semelhante, reerguer-se das falhas, confiante que merece ser feliz. De modo inverso, as atitudes contrárias geram as energias negativas, que por sua vez, baixam a nossa vibração e nos afastam dos nossos anjos guardiões. Ficamos vulneráveis a forças obsessoras, pois saímos da esfera de proteção dos espíritos de luz e com isso ficamos fora do alcance de sua companhia, fora da alçada de sua assistência.

Guardo relatos magníficos de passagens - casos reais - demonstrando, inequivocamente, visitas e intervenções de seres angelicais aqui na Terra. Deixo, por exemplo, aqui ilustrado, um conto de um acaso ocorrido que arrepia minhas lembranças até hoje:

O jovem de compleição física musculosa pilotava uma moto de grande porte, com certa velocidade, numa manhã de um Domingo ensolarado com um céu de brigadeiro. Acidentalmente, as rodas da moto resvalaram numa manta de areia seca sobre a pista e todo o peso do veículo precipitou-se sobre o corpo do condutor, imobilizando por completo os seus movimentos, de modo a impossibilitar qualquer tentativa de elevar-se do chão. O impacto violento esculpiu inteiramente e com profundidade a perna direita do motociclista no metal do tanque de gasolina. Olhando pelo visor do capacete, não vislumbrou o acidentado ninguém que pudesse socorrê-lo, até porque exigiria a junção de forças de várias pessoas para removê-lo do chão dado o volume de peso a suportar. Foi então que, surpreendentemente, aparece um estranho de razoável estatura, dotado de uma força extraordinária, que abaixou-se e com grande naturalidade levantou sozinho a moto e o motociclista. Perguntou apenas: “Você está bem?” e foi-se como um caminhante qualquer. Nenhum machucado, nenhuma seqüela resultaram do choque com o solo, apesar do estrondo e dos danos causados na carenagem da moto. Atônito, o jovem, até então cético quanto aos assuntos místicos, considerou a possibilidade de tratar-se de algo vindo do campo sobrenatural. Esse jovem é o meu irmão que, naquela manhã, estava indo almoçar comigo na minha casa. Ao me descrever o ocorrido, eu murmurei pra mim mesma: “Você recebeu ajuda de um anjo”. Tempos depois, ao voltarmos ao assunto, rememoramos um detalhe, um elo na montagem das peças daquele quebra-cabeça: meu dedicado irmão, após o acidente, viria a tornar-se o cuidador dos nossos pais até o momento em que ambos mudaram de endereço para a dimensão celestial. Assim, o jovem sobrevivente, intacto após um gravíssimo acidente, tinha uma missão especial a ser cumprida e por desígnios divinos, foi milagrosamente poupado.

Paralelo aos seres excelsos habitantes do Reino dos Céus, eu penso que existe, ainda, outro grupo de anjos, desta vez lotados na crosta terrestre: são os tutores da alma - anjos desconhecidos – de carne e osso que apóiam a nossa existência no plano físico. São verdadeiras dádivas divinas que com sua sabedoria, sua lucidez, sua força de caráter e, sobretudo, com seu amor incondicional, convivem conosco até por uma vida inteira. Quase sempre escapam aos nossos olhos e ouvidos a grandeza e o brilho desses seres devotados que, exercitando o amor em sua plenitude, mudam o rumo das nossas vidas: são aqueles que nos cercam na intimidade doméstica, nos guardaram o berço, incansavelmente dispostos a nos ofertar, silenciosa e generosamente, o carinho, a renúncia, a doação; são aqueles que nos guiaram à fé e nos sustentaram a infância para agora desfrutarmos das oportunidades que hoje nos felicitam; são as mãos humildes que nos auxiliam a modelar na alma a obra-mestra da esperança e da paciência e nos ensinaram a confiar e a servir; são aqueles que nada dizem, mas, que nas entrelinhas da convivência, muito fizeram e ainda fazem por nós ao preço de sacrifícios ferinos.

Vários desses anjos de carteira assinada, com contrato espiritual de amparo aos seus assistidos, jazem agora na retaguarda, cansados e envelhecidos, sentindo o frio da desatenção dos seus entes queridos, experimentando agoniada sensação de descarte. Alguns prosseguem devotados, mesmo na obscuridade, no cuidado aos seus tutelados, arrastando os pés à procura talvez de um chão de afetos. Outros muitos, embora enrugados e padecentes, arrastando as memórias consigo, carregam, nos bastidores, as cruzes dos seus assistidos até o último suspiro. A nossa desídia para com eles tem o mesmo efeito de descermos a mão pelo peito adentro e fustigarmos-lhes o coração.

Por tudo isso, eu deixo aqui um pedido: procure “na poesia (inexplicável) da vida” de Drummond, os seus anjos disfarçados ou desconhecidos que se ocultam na armadura da carne e de quando em quando, experimente o júbilo de ter sido agraciado por esses presentes de Deus e unte-lhes o coração com o bálsamo do reconhecimento e da alegria através de gestos simples, mas de grande poder e valor: uma frase de estímulo, um abraço de gratidão, uma conversa breve, uma prece, um agrado, um sorriso, um olho no olho com um “muito obrigado”.

Pense nisso.


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CRÔNICA 26
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5 comentários:

  1. Olá, Amiga Regina!
    Eu já estava sentindo falta demasiada das coisas lindas que são verdadeiro sumo de uma alma clara, transparente e radiante.
    Você descreveu sobre um dos assuntos mais lindos que gosto de ler: Anjos! Quem não os tem? E quantos? Pior: muitos de nós não os reconhecem nem lhes dá valor. Infelizmente, desde pequenos, reconhecemos nosso Anjo da Guarda porque nos presta serviços de assistência física e mais tarde às atitudes. Somos criados com essa visão egoísta e esquecemos que também somos anjos de alguém. Afinal, quem são anjos senão aqueles que nos protegem e nos orientam pelos caminhos da retidão? Até aquele vizinho carrancudo que nos chama a atenção se tentarmos “roubar” uma manga... está nos protegendo de deslizes no futuro! Os pais, irmãos, amigos, namorados, vizinhos, poetas, psicólogos.... quantos anjos passam por nossas vidas, cada um com funções tão nobres quando as de um Anjo Celestial! Alguns até ficam pra sempre, como você mesmo disse! André Trigueiro no seu livro “Espiritismo e Ecologia” comenta claramente quanto somos anjos uns dos outros e também de nosso ambiente (protetor de todas as vidas). Alguns dos Anjos realizam verdadeiros milagres em nossas vidas com uma participação “educativa” cujos teoremas ficam indelevelmente presentes em nossas atitudes. Mas existem uns Anjos que você magistralmente adjetivou: “... incansavelmente dispostos a nos ofertar , silenciosa e generosamente, o carinho, a renúncia, a doação;...” – fantástico, Regina!
    Se prestarmos bem atenção aos seus olhinhos já bastante cansados, veremos que ali ainda continuam e evaporar orações não ditas, mas sentidas como se dissessem aos céus: Que filha ou filho maravilhoso que ajudei a criar. Deus te abençoe, meu filho ou filha! - Ora, isso não é coisa de Anjo? Quem os tem, não perca a oportunidade de pedir sua proteção num abraço, um beijo e, se possível, um “eu te amo”!
    Obrigada, amiga por mais esta pérola
    Você se supera a cada dia (já te disse isso, mas não me canso de repetir)
    De alguma forma, tenho em você um verdadeiro e valoroso Anjo!
    Beijos

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  2. Oi...sou eu aqui...seu leal fã. Sabe, acho que não apenas para mim, mas já para um número bem grande de pessoas você é um anjo disfarçado! Seus contos deixam lições sublimes que nos conduzem ou à reflexão ou à emoção ou a um tempo distante ou a uma aventura, enfim, sempre aceitamos inconscientemente seu convite e embarcamos em suas palavras nas primeiras linhas.
    Particularmente, nesse conto, me vi diante de uma reflexão estimulada pela consciência que me alerta que muitas vezes acredito que meus anjos disfarçados estarão para sempre ao meu lado, mas que Deus, no minuto que Lhe parecer necessário, pode mudar a realidade e me deixar, ainda que temporariamente, sem a vital presença. Talvez para me ensinar o valor de um anjo ao meu lado por meio da sua ausência ... não sei...Seus motivos são inquestionáveis...Sigo agradecendo a companhia dos meus anjos do plano espiritual e do plano terrestre. Mas para um anjo em particular eu deixo AQUI (no blog) o meu abraço, o meu beijo, o meu amor, a minha consideração, o meu respeito e minha admiração...para o anjo que eu mais vejo...eu desejo...que escreva muuuuitos mais contos assim...porque anjo que é anjo...ensina com palavras tão lindas...Beijos e até o próximo conto.

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  3. Concordando com o Ulysses, afirmo que neste conto você fez uma descrição de si mesma. Parece que você sempre enxerga o imperceptível, lê a alma humana de uma forma tão profunda, tão sábia...Álém disso você tem um amor incondicional por todos. Atrevo-me em dizer que você deve sentir uma inquietação ou desejo de intervir na vida das pessoas (não importa quem seja) quanto elas estão sofrendo, uma vez que você também sofre com o sofrimento delas.
    Se você não é um anjo, foi educado por um ou coisa assim...
    Em vários momentos da minha vida pude sentir esta graça divina de estar sendo cuidada de maneira imerecida. Senti esta graça quando conheci vocês, que formam uma linda família de anjos e me fazem saber o quanto Deus me ama e cuida de mim!

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  4. Bem, minha família é composta de anjos, graças a Deus. Mas uma vez passei por um aperreio muito grande na praia do Tupé. Eu e meus amigos resolvemos atravessar de uma margem a outra a nada, na hora do almoço e de barriga vazia. Em síntese: quase que todo mundo se afoga. Nesse dia, bem no meio igarapé, já nas últimas eu e minha grande amiga Sofia pedimos socorro. Lembro como se fosse hoje, as pessoas na praia estavam bebendo e escutando música alta, jamais ouviriam nosso pedido de socorro. Até que deus em sua misericórida de nos conceder mais um amanhecer mandou um anjo (na minha opinião era um anjo) com aparência de catraieiro. Não sei daonde ele veio e nem pra onde, mas o auxílio dele foi de origem divina. Sou grato. Que Deus cuide dele.

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  5. É mais do que certo que o poder da fé é enorme e que ela "move montanhas", você fala sobre seres sobrenaturais e a palavra do Senhor nos confirma a presença deles em nossas vidas quando em Genesis 20:21 diz: "Eis que enviarei um Anjo diante de ti para que te guarde no caminho e te conduza ao lugar que te preparei. Respeita-o e ouve a tua voz." Isso é comovente. Conheço a História do rapaz da moto, e posso testemunhar com certeza que ele tem uma grande missão, e o Senhor jamais poderia levá-lo sem antes cumpri-la. Com certeza obteve o auxílio de seres tão reais como nós, mesmo que nossos sentidos não sejam capazes de percebê-los. Que o Senhor Todo Poderoso lhe abençoe. Parabéns por escrever coisas que nos tocam profundamente

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